quarta-feira, 20 de junho de 2007

Moçambique : bispo teme novo "Apartheid"


KÖNIGSTEIN, segunda-feira, 18 de junho de 2007 (ZENIT.org).- Dom Francisco Silota, bispo de Chimoio, em Moçambique, advertiu sobre o perigo de uma nova segregação racial.Em uma conversa com a associação católica pastoral Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), expressou o temor de que os camponeses brancos que foram expropriados durante as reformas em Zimbábue e obrigados a abandonar o país, e que agora se estão assentando em Moçambique possam fazer que «os moçambicanos se sintam como estrangeiros em seu próprio país».Assinala que o Governo deve ter cuidado e analisar bem quantas terras podem ser cedidas a esses camponeses estrangeiros, para que não surja uma situação similar à de Zimbábue. «Estes camponeses trazem tecnologias modernas e têm um forte espírito empresarial. Devemos ter cuidado para que não surjam tensões», acrescentou o bispo. A Diocese de Chimoio faz fronteira com Zimbábue e atualmente muitos refugiados estão cruzando a fronteira. O bispo assinala que esta circunstância também está criando tensões sociais, pois muitos dos refugiados não encontram trabalho e isso, por sua vez, está ocasionando um aumento da criminalidade em alguns lugares. Muitos moçambicanos observam estes fatos com preocupação, porque temem que desestabilize sua própria situação social.Segundo o bispo Silota, a principal tarefa da Igreja consiste em implantar o Evangelho na cultura local. «A inculturação é a espinha dorsal de todos nossos esforços pastorais e sociais», assegura, acrescentando que Jesus deve ser apresentado às pessoas como «um dos seus».Para isso, a Igreja deve «traduzir a Boa Nova à língua do povo», mas não só em um sentido puramente lingüístico, porque também é preciso integrar a totalidade das formas culturais de expressão arraigadas na região.«Na África, a fé não é algo isolado, mas compreende a pessoa e a vida em sua totalidade», assinala Dom Silota.O bispo observa que, com freqüência, a pobreza reinante ocasiona o desarraigo das pessoas e a perda dos valores tradicionais. Em particular, o êxodo rural está fazendo as pessoas perderem as raízes no «meio estranho e hostil» das urbes, e esta situação é responsável pelo aumento da promiscuidade e do consumo de álcool e drogas, entre outros.Segundo Dom Silota, 39% dos moçambicanos vive hoje nas cidades, e se prevê que até 2010 este número alcance os 50%.O bispo também está muito preocupado pelo fato de que 19% da população seja aidética. Em sua opinião, é escandaloso que muitas moças jovens, devido à sua pobreza, sejam presa fácil de homens que abusam delas e as contagiam com o vírus.«Se a Igreja é o Corpo de Cristo, a propagação da Aids significa que o Corpo de Cristo está fisicamente enfermo», declara, «e este problema afeta todos». A Igreja se opõe à exigência de muitos políticos de legalizar o aborto. Na cultura africana, a vida é valiosa e as crianças, um «tesouro», assegura Dom Silota. O bispo Silota diz que, para combater este desarraigo, os sacerdotes devem trabalhar incessantemente «para encarnar a Boa Nova na cultura local», e acrescenta que a condição mais importante para isso é o conhecimento das línguas locais. O bispo assinala que na Diocese de Chimoio são faladas oito línguas diferentes, e ressalta que é importante anunciar o Evangelho de forma que as pessoas possam entendê-lo. Dos 26 sacerdotes de sua diocese, 18 são evangelizadores estrangeiros e só 8 moçambicanos nativos, ainda que esclarece que «o povo não considera os missionários como estrangeiros: as pessoas normais asseguram que os sacerdotes brancos ‘são dos nossos’», acrescenta o bispo.